terça-feira, 8 de novembro de 2011

Certa vez, a família Bittencourt acabara de sair de um shopping no leblon, onde tinham feito compras casuais. O nome do patriarca é Magnus, sua esposa se chama patrícia e os filhos Arthur e Carola. Junto deles estava o pequeno e humilde Severino. O garoto era de família simples que trabalhava para os Bittencourt. Como o menino estava esperando sua mãe para ir embora, já que tinham que pegar dois ônibus e ela não podia pagar a “rota”, Magnus resolveu levá-lo. Assim que o manobrista trouxe o carro da família e, após o olhar altivo para o rapaz, não lhe deu uma gorjeta sequer.
No carro, Magnus resolveu contar sua história de vida, se gabando sempre que podia. Em alguns momentos seus filhos lançavam seus “porquês”, interrompendo seus contos heroicos e vencedores na vida, mas continuava o caminho sem mesmo olhar pelo retrovisor interno para responder às relevantes perguntas de seus filhos.
Magnus veio de uma família pobre e de um relacionamento fraco com seu pai.
Quando pequeno, Magnus só via pessoas ricas e orgulhosas ao seu redor, já que sua família trabalhava para uma outra muito rica. Presenciava várias cenas de humilhação e esnobismo por parte dos patrões de seus pais. Ao mesmo tempo, ouvia que nunca deveria tratar as pessoas da mesma maneira que seu pai estava sendo tratado.
Os anos se passaram e Magnus foi em busca de uma educação e conhecimento necessários para entrar no mercado de trabalho. Depois, resolveu fazer especialização em sua formação, já que tinha adquirido um diploma técnico.
Com o aumento da indústria e o aquecimento dos setores tecnológicos, conseguiu se firmar em uma empresa multinacional. Após participar de um investimento que envolvia ações da própria empresa a qual estava, Magnus obteve boa parte e se tornou sócio da própria firma. Conheceu Patrícia em um jantar de negócios, onde descobriu que ela vinha de família rica.
No entanto, parece que a única coisa na qual se fortaleceu para vencer a infância pobre se perdeu em meio aos afazeres de uma vida regada à luxo: o conselho de seu pai. Ao contar suas histórias para seus filhos, sua essência motivacional se perdera. E pior: seu humilde caráter inicial apresentava desvios. Você deve estar se perguntando aonde fica o Severino na história. Bom, depois de uma longa exposição “heroica”, os filhos começaram a cochichar nos bancos de trás:
___Arthur: ainda bem que o papai é rico!
___Carola: É, mesmo! Não preciso trabalhar porque o papai tem dinheiro. Melhor que ser pobre!
Sem perceber que o severino estava do lado deles e ouvindo tudo o que estavam falando, continuaram a brincar com seus brinquedos caríssimos. A família seguiu o curso da viagem normalmente, e foi aí que Severino percebeu que indiretamente, já que não o notaram ali, ele estava sendo incluído na conversa. Por um instante, refletiu sobre tudo o que Magnus e seus filhos disseram, paralelamente ao que sua mãe ensinou. Pensou em todos seus sonhos, nos seus colegas de comunidade e de colégio, nas pessoas que vão exprimidas dentro do ônibus, ou seja, todas as que o cercam e que fazem parte da sua rotina. Mas, um conselho que sua mãe repete muito , fez com que chegasse a uma conclusão.
Ao retornar para casa, depois de um passeio no shoppinng, enquanto todos saíam do carro, Magnus, com um sorriso orgulhoso, bate no ombro do pequeno Severino e diz:
____Magnus: “filho”, segue o que disse no carro e vai se dar bem!
____Severino: Mas o senhor ainda gosta dos pobres?
____Magnus: Não! O que eu puder fazer pra não deixar meus filhos se misturarem, melhor!
____Severino: Ah! “tá”!
____Magnus: Seja igual meus filhos, que conhecem minha história e já sonham alto!
____Severino: me desculpa, mas não posso ouvir o senhor.
____Magnus: o que é isso, meu filho?! Como assim?
____Severino: ela disse que não é pra ouvir conselhos de pessoas estranhas.
____Magnus: mas não sou estranho?! Você me vê todo o dia e sua mãe trabalha pra mim!
____Severino: é porque ela diz que quem não tem princípios e não dá exemplos de vida é estranho e engana a ele mesmo. Entendeu! Tchau!, Para o senhor.

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